domingo, 10 de novembro de 2013

Por Rafael Oliveira

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O Manifesto do Partido Comunista, ou simplesmente Manifesto Comunista, obra escrita por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, é fruto do II Congresso da Liga Comunista realizado em 1847. Houve vários debates para a formulação do documento pragmático da Liga no ano de 1847, mas nenhum vingou, ficando a cargo de Marx e Engels a sua construção. José Paulo Netto nos diz que “não há dúvida, à vista da documentação hoje disponível, que, embora fruto da colaboração de ambos, a expressão literária do texto é quase totalmente da responsabilidade de Marx”[1].
            O livro é dividido em quatro capítulos: Burgueses e proletários; Proletários e Comunistas; Literatura socialista e comunista e; Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição.
            De início, os autores nos mostram que toda sociedade humana tem em sua história o conflito de classe. Em toda a humanidade sempre houve oprimidos e opressores, classes que sobjulgaram outras, as dominaram, por vezes de maneira mascarada, por vezes não. Em comum, todas essas sociedades terminaram com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio de ambas as classes conflituosas.[2] Nessas sociedades haviam vários segmentos sociais em hierarquia, criando e delimitando vários grupos de indivíduos.
            Os autores partem desse pressuposto para delinear o modo de dominação da moderna classe burguesa, mostrando a sua herança histórica. A construção da burguesia moderna se deu através de um longo processo de transformações dos meios de produção e circulação dos produtos. Assim sendo, algumas classes foram se mesclando, outras deixando de existir e graças ao desenvolvimento da indústria e do comércio e do seu controle estar nas mãos de pequenos grupos de indivíduos, a burguesia conquistou o domínio político do Estado representativo. Nas palavras dos mesmos:
Nossa época – a época da burguesia – caracteriza-se, contudo, por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade se divide, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas: a burguesia e o proletariado.[3]
Como parte da revolução causada pela burguesia, os autores destacam a destruição das relações feudais, patriarcais e idílicas.[4] Não existem mais “superiores naturais” ou “ordenações divinas”, a relação entre os indivíduos agora era apenas comercial, só o dinheiro interessava. Era o fim da liberdade dos indivíduos para o advento da liberdade do comércio. “Em uma palavra, no lugar da exploração encoberta por ilusões religiosas e políticas ela colocou uma exploração aberta, desavergonhada, direta e seca”[5].
Outros critérios destacados são a necessidade constante da criação de novos mercados e a “globalização” dos meios de produção. A burguesia necessita de novos mercados para continuar a existir, ela precisa de vínculos e consumidores em todos os lugares, o que retira o tradicionalismo local das indústrias, fazendo com que as mesmas produzam os mesmos produtos em diferentes partes do globo.
Mas o mais importante de todas as mudanças causadas pela burguesia foi a transformação da maioria dos homens em trabalhadores assalariados. E é nesse contexto que surge o proletariado.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos trabalhadores modernos, que só sobrevivem se encontram trabalho, e só encontram trabalho se este incrementa o capital. Esses trabalhadores, que são forçados a se vender diariamente, constituem uma mercadoria como outra qualquer, por isso exposta a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as turbulências do mercado.[6]
          
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  Com a expansão da maquinaria, os proletários perderam sua autonomia e viram os “seus custos” se resumirem aos meios de subsistência de que necessitam. E para piorar, com o aumento e desenvolvimento da maquinaria, aumenta o número de trabalhadores e da divisão do trabalho, sempre em busca de produção mais rápida, o que precariza mais ainda a situação dos trabalhadores. Os trabalhadores são organizados militarmente nas fábricas. Não são apenas serviçais dos burgueses, mas são também oprimidos diariamente, tudo em prol do lucro máximo.
            Os autores nos dizem que com o desenvolvimento da indústria, não só o proletariado aumenta, como sua força também, e que eles sabem disso, aumentando cada vez mais o choque entre as classes. Em suas palavras:
De todas as classes que hoje se contrapõem à burguesia, só o proletariado constitui uma classe verdadeiramente revolucionária. Todas as demais se arruínam e desaparecem com a grande indústria; o proletariado, ao contrário, é seu produto mais autêntico.[7]
            Assim, para os autores os proletários de cada país necessitam derrotar, antes de tudo, a sua burguesia nacional, para então ser possível a criação de um mundo onde o trabalho seja valorizado e onde haja igualdade entre os homens, onde cada um trabalharia para manter seu bem estar e de toda a comunidade. Para eles, “a burguesia produz, antes de mais nada, seus próprios coveiros. Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. ”[8]
Os comunistas entram em questão pois representam e põe em prática, na palavra dos autores,
 os interesses de todo o proletariado em todas as lutas nacionais dos proletários, independentemente de sua nacionalidade; por outro lado, porque em todas as etapas da luta do proletariado contra a burguesia, defendem sempre os interesses do conjunto do movimento.[9]
 Os comunistas não são contrários a propriedade em si, mas apenas a propriedade burguesa constituída em torno do modo de produção e apropriação em antagonismo de classes e exploração de uma classe sobre a outra. Assim sendo, é desejo dos comunistas, não o fim da propriedade, mas o fim da propriedade privada.
O trabalho do proletário não cria nada para ele, mas apenas capital, necessário para se criar mais trabalho, para se criar mais capital. A sociedade moderna vivia em um ciclo onde o proletariado era constantemente explorado pela burguesia.  “Na sociedade burguesa, o capital é autônomo e pessoal, enquanto o individuo que trabalha não tem autonomia nem personalidade.” [10]
O comunismo não proíbe ninguém de se apropriar dos produtos sociais, proibindo apenas que essa apropriação subjulgue o trabalho do outro.
Os autores ainda nos dizem que os trabalhadores não possuem pátria e que ao conquistar o poder político, necessitam elaborar a sua própria nação, a nação dos trabalhadores. Com o fim da diferenciação e do antagonismo das classes, não haverá hostilidade entre as nações, existindo apenas a pátria dos trabalhadores.
O primeiro passo da revolução dos trabalhadores é a ascensão do proletariado à situação de classe dominante, responsável por uma ruptura com as ideias do passado e por conquistar a democracia.
Os autores demonstram, que através de apoio aos partidos democráticos em toda a Europa, os comunistas colocavam em prática suas ideias a cerca de mundo, e propiciavam a revolta do proletariado visando constituir um mundo mais igual, sem hostilidade e domínio de uma classe sobre a outra. Um mundo onde todos trabalhassem em prol da comunidade e desse modo, em prol de si mesmo, sem hostilidade entre classes, até porque não existiriam outras classes, a não ser o proletariado.
Em suma, para o proletariado ascender socialmente e derrotar a opressão burguesa era necessário a apropriação de uma identidade de classe dos trabalhadores. Apenas quando esses trabalhadores se entendessem como grupo e como únicos capazes de inverterem a dominação vigente, o proletariado estaria apto a conquistar o poder político e fomentar os elementos necessários para a igualdade entre os homens.

Referências Bibliográficas
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
NETTO, José Paulo. Elementos para uma leitura crítica do Manifesto Comunista.



[1] NETTO, José Paulo. Elementos para uma leitura crítica do Manifesto Comunista.
[2] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Expressão Popular,2008. p. 8
[3] Idem, p. 9
[4] Idem, p. 12
[5] Idem, p. 12
[6] Idem, p. 19
[7] Idem, p. 25
[8] Idem, p. 29
[9] Idem, p. 30
[10] Idem, p. 34