segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Por Gabriela M. Ribeiro e Laíne Mendes

Fotos: Nathalia Bastos


O dia 21 de novembro de 2013 trouxe uma novidade para o curso de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro: a inauguração de um novo grupo de estudo acadêmicos, o Pluralitas – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Históricos. O mesmo reúne diversos pesquisadores das áreas de história antiga, medieval e teoria, mas também mantém dialogo com outros campos de conhecimento, como a área de letras e filosofia, por exemplo.


Neste sentido, o Pluralitas traz um diferencial ao propor um ambiente de estudos mais amplo, prezando pela interdisciplinaridade e, deste modo, buscando novos desafios e temáticas dentro do curso de história. O nome do grupo foi inspirado na frase “Principium Pluralitatis est Alteritas” (O princípio da pluralidade é a alteridade) de Boécio (480-525 d.C).

O evento ocorreu no auditório Paulo Freire, localizado na UFRRJ – Campus Seropédica, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Professores e alunos colaboradores (14 alunos no total), sob coordenação do discente Vanir Júnior, articularam toda a produção.

O grupo é constituído por professores extremamente competentes. Entre eles estão José da Costa D´Assunção Barros; Luis Eduardo Lobianco, Manuel Rolph, Marcos Caldas, Miriam Coser, Raquel Pereira, Renata Rozental e Rivia Fonseca. O Pluralitas também conta com alunos em sua composição, sendo, desta forma, um grupo acessível ao âmbito discente.

No decorrer do evento houve a apresentação do site www.pluralitas.webs.com. feita pelo Professor Marcos Caldas (IM-UFRRJ). Por meio do site há acessibilidade a fontes, arquivos, índice de bibliotecas, espaço para fórum de debates e envio de mensagens.

O Professor José D’Assunção Barros (IM-UFRRJ) apresentou o grupo NUPEH (Núcleo de Pesquisas Historiográficas), que é voltado ao estudo de teoria, metodologia e historiografias. O grupo de pesquisa está em expansão e tem como um de seus objetivos formar um dicionário com historiadores de todo o Brasil, estando também ligado ao Pluralitas. O NUPEH também é aberto ao âmbito discente. Ponto importante citado pelo professor – e que foi lembrado durante todo o evento – foi justamente a questão da autogestão e a valorização das iniciativas discentes. Esta é uma ideia que é alimentada/incentivada dentro do NUPEH, onde as iniciativas e decisões são feitas pelos próprios alunos. Esta atitude, defende Professor D’assunção, é uma forma de sair da lógica cada vez mais hierarquizada da universidade, “aonde o aluno não aprende a mesma de uma forma aberta, conjunta e de, alguma maneira, interdisciplinar”. O site do grupo é www.nupeh.webs.com.

Após apresentação acerca dos grupos de estudo e pesquisa, seguiu-se a vez dos professores falarem sobre suas pesquisas e trabalhos acadêmicos variados. O primeiro a palestrar foi o Professor Manuel Rolph, que falou a respeito de sua tese de doutorado. Seu tema é relacionado com o conceito de fronteira étnica romana. A fronteira étnica, nas palavras do Professor, se define como um espaço de interações, lutas, afirmações e rejeições, sendo um processo construído pela consciência de alteridade de um grupo, que, geralmente, é embasada em narrativas míticas de origem. É a partir deste processo de fronteira que Roma construiu sua identidade étnica, dando nova significação e ressiginificação ao mundo diversificado existente ao seu redor. É, por exemplo, Roma quem dá nome aos celtas, gregos, germânicos (como é possível ver nas narrativas de Cícero ou Tácito), já que antes não havia denominações, mas meras distinções culturais para aqueles que viviam em regiões próximas.

A segunda a se apresentar deveria ser a Professora Miriam Coser, mas a mesma não pôde comparecer. Entretanto, o Professor Marcos Caldas leu sua pesquisa, que tem como tema o campo da biografia e estudos de gênero na Idade Média.

A terceira Professora a se apresentar foi Rivia Fonseca. Convidada pelos professores a integrar o Pluralitas, a professora da área de letras ministra a disciplina de línguas latinas da universidade e, com sua entrada no grupo de pesquisa, retomou estudos sobre a antiguidade. A linguista e especialista em latim clássico tem como projeto o uso de noções metodológicas da área de letras aplicadas aos estudos textuais da história, como, por exemplo, a análise de discurso, que propiciaria uma melhor compreensão de fontes de materiais historiográficos.

A quarta foi a Professora Renata Rozental Sancovsky. Ela chamou para compor a mesa o discente Vanir Júnior (ex-bolsista PIBIC/CNPq e atual FAPERJ). Representando os alunos que pesquisam em um espírito pluralitano e que também são orientados pela Professora Renata, Vanir apresentou os resumos das pesquisas dos outros pesquisadores discentes.

O primeiro projeto apresentado por Vanir foi o do aluno Caio César (6ºperíodo e monitor de História Antiga e Medieval), que fala acerca do “Corpus Mysticum e a construção do imaginário medieval de sociedade por Santa Catarina de Siena”. Para isso, Caio utiliza os Diálogos de Catarina e propõe o entendimento de aspectos particulares do imaginário social do ocidente medieval como parte da idealização de um Corpus Mysticum de Cristo.

O segundo projeto foi o da aluna Tatiane Souza (FAPERJ), intitulado como “Relações sociorreligiosas na Idade Média Hispânica, tendo como fonte as epístolas de Rabi Moshe Ben Maimon (1135-1204)”. Tatiane, além de evidenciar o “mito da convivência pacífica” entre muçulmanos e judeus no período medieval, busca estudar as produções historiográficas vigentes sobre as relações sociorreligiosas na formação do mundo ibérico - especificamente Espanha Muçulmana em contexto de Reconquista Cristã – tendo como objetivo destacar – com base no discurso de Maimônides – as possibilidades do judeu prosseguir em sua fé, mesmo sofrendo conversão forçada, política esta vigente no período de dominação Almôada/Almorávida.

O terceiro projeto foi o do aluno Samuel Felício (PIBIC/CNPq), intitulado como “Assassinato ritual e hóstia profanada: imagem e literatura clericais na construção de mitos antijudaicos juntos à Cristandade Européia – Séculos XI a XIII”, no qual o aluno tem como objetivo levantar e analisar os pensamentos e práticas que possibilitaram a construção de mitos antijudaicos no Ocidente Medieval, o que possibilitou a formação de uma representação degradante dos judeus e promoveu o antijudaismo popular.

O quarto projeto apresentado foi o do próprio Vanir Júnior (ex-PIBIC/CNPq e atual FAPERJ), intitulado como “Romanização e Cristianização da Hispania: Identidade, História e Literatura Eclesiástica – Séculos V-VII”. Trabalhando com as Histórias de Isidoro de Sevilha, Vanir tem como objetivo analisar a formação de um projeto eclesiástico no qual os escritos do bispo hispalense (retomando uma tradição literária típica de nomes como Paulo Orósio) aparecem como fundamentadores e contribuintes diretos num processo formativo de um discurso mitológico de unidade hispano-visigoda. Além disso, evidenciam a participação clerical na formação deste imaginário de poder, bem como seus objetivos no que diz respeito à conservação da fé cristã nicena em solo hispânico, através do estabelecimento de uma unidade régia.

A Professora Renata Rozental, ao discursar sobre seu projeto de pesquisa, falou que o mesmo é um estudo sobre processos discursivos referentes à polêmica judaico-cristã no período inicial da Idade Média, a partir daquilo que ela nomeou como literatura patrística polêmica, na qual é encontrada uma série de elementos anti-judaicos. Na mesma é possível identificar três discursos: o da homilética/moralizante, o narrativo/discursivo e o teatral. Sua pesquisa destaca a relação de alteridade entre judeus e cristãos no mundo tardorromano e medieval. A pesquisa se encontra em contínuo desenvolvimento.

O último a apresentar foi o Professor Luís Eduardo Lobianco. Logo no início de sua fala relatou sobre as aprovações da I Jornada do Pluralitas pelo colegiado do DHRI (Departamento de História e Relações Internacionais) e no CONSUNI/ICHS da UFRRJ, o que, nas palavras do Professor, foram grandes vitórias para o grupo. Antes de falar sobre seu trabalho, apresentou as quatro linhas de pesquisa existentes no grupo: a primeira é sobre Arte, formas de expressão e história intelectual; a segunda é poder, interações e conflitos culturais; a terceira, história social e das ideias; a quarta é economia política da religião.

A pesquisa do Professor Lobianco segue a segunda linha mencionada e é intitulada Religião, Poder e sociedade no Egito Ptolomaico e Romano. O seu objetivo é identificar as práticas religiosas do Egito Helenístico e Romano, em específico o politeísmo e o hibridismo envolvendo egípcios, gregos e romanos. O Professor Lobianco também citou outros trabalhos dos seus orientandos. Serão citados aqui alguns: “Paulo e a mulher cristã no Oriente Helenístico”, de Aparecida Conceição Azevedo; “Cultos domésticos no Antigo Egito”, de Bárbara Carina L. da Silva e o “Poder Feminino no Reino Novo. Hatshepsut e Nefertiti” de Elizabete Cristina Da Silva Chaves.


Em seguida, o Professor chamou à mesa um de seus orientados, o aluno Thiago Ribeiro. O seu tema de monografia, “Morte e Magia no Reino Novo e na época Tardia”, tem como objeto de estudo a morte e a magia no Antigo Egito, com base em questões ligadas sobretudo à cosmologia, ao monismo e ao dualismo, a partir da análise de fontes iconográficas funerárias, em especial cenas de Psicostasias, mas também textuais - Livro dos Mortos. 

Confira algumas imagens do evento:






































segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

HOJE NA HISTÓRIA!


No dia 6 de janeiro de 1412 nascia a Joana d' Arc, na cidade de Domrémy-la-Pucelle, na França. Denominada santa padroeira da França e considerada heroína da Guerra dos Cem Anos, ela morreu na cidade de Ruão, no dia 30 de maio de 1431. A mártir francesa foi canonizada em 1920, pelo Papa Bento XV, quase cinco séculos depois de queimada viva, acusada de bruxaria. Dois anos depois, ela foi declarada padroeira da França. O Parlamento francês também estabeleceu uma festa nacional em sua honra no segundo domingo de maio.


Fonte: SeuHistory.com

sábado, 4 de janeiro de 2014


Por Rafael Oliveira
O filme “Xingú”, dirigido por Cao Hamburger, tem como objetivo demonstrar o processo de criação do Parque Nacional do Xingú, dando ênfase na história dos irmãos Villas-Boas e no processo de aproximação aos índios, além dos entraves políticos e sociais do mesmo.
            Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas visando propiciar a integração nacional, deu início a chamada Marcha para Oeste. De acordo com o filme, tal Marcha tinha como objetivo penetrar o Brasil central, até então desconhecido, com a finalidade de abrir campos de pousos, fazer reconhecimento do ambiente e tomar posse da região. De acordo com a autora Vânia Moreira, “a Marcha para Oeste pode ser definida como uma política de colonização do meio-oeste, então considerado um dos ‘vazios demográficos’ do território nacional.”[1] Ainda segundo a autora, os objetivos da Marcha para Oeste eram claros:

combater a formação de latifúndios nas fronteiras agrícolas, ampliar e integração física e econômica da nação e transformar as condições de vida e de trabalho da população pobre do campo, tornando-os pequenos produtores e proprietários rurais com capacidade de consumo de bens industriais.[2]

                Durante a Marcha, os seus integrantes, vulgos “peões”, encontraram várias tribos indígenas no território que, para o governo, deveria estar desocupado. Podemos perceber no filme, como essa relação entre os indígenas e os peões, a princípio, foi conflituosa. Para os índios, os brancos eram invasores de seus territórios, enquanto para os brancos, os índios eram selvagens. Com o tempo, foi ocorrendo a aproximação entre ambos os grupos, muito devido aos irmãos Villas-Boas. O contato inicial com as tribos, na maioria das vezes era feita via entrega de presentes, miçangas e utensílios, onde os integrantes da expedição demonstravam suas boas intenções na aproximação aos indígenas. Algumas tribos tinham maior abertura para o contato, visto que muitas já haviam sido contactadas anteriormente, enquanto outras tinham maior dificuldade nesse processo de início de relação. Essas últimas, vistas como tribos hostis e violentas, em sua maioria já haviam tido contatos ruins com os brancos no passado. Garfield Seth nos diz que, no caso dos Xavantes, eles “tinham dolorosas recordações da dominação branca.”[3] O contato com os Xavantes foi o mais complicado, dependendo da ajuda de outras tribos indígenas para ser efetivado, e com saldo de uma equipe do SPI morta.
            O Estado Novo via no indígena a gênese do brasileiro e da nação. Nesse período há a exaltação dos índios, colocados em pedestais pelo regime. Havia todo um discurso de nacionalização dos índios[4], de proteção aos indígenas por meio de tutela do Estado, de modo a organizá-los e civilizá-los. Souza Lima nos diz que

Pela Lei nº 5484/1928, primeira a regular a situação jurídica dos nativos sob o regime republicano, a tutela seria do Estado nacional brasileiro sobre os povos indígenas [...] (grifos no original)[5]

Os índios, além disso tudo, eram vistos como protetores das fronteiras, demarcadores do território nacional. Havia toda uma propaganda por parte do DIP, demonstrando o caráter nacional do indígena e valorizando-o como ser integrante da nação. Garfield Seth nos diz que

Um cinegrafista do DIP acompanhou Vargas [em sua visita a aldeia dos índios Karajá], filmando imagens que o regime autoritário nacionalista procurou tornar relíquias: índios vigorosos, emblemáticos da força inata dos nativos brasileiros; o “tradicionalismo” das comunidades indígenas; a camaradagem entre índios e brancos; a bonomia do presidente, epítome do homem cordial brasileiro; o longo braço do Estado estendendo-se ao sertão para dar lhe assistência.[6]

Vários fatores fizeram com que os indígenas entrassem em cena na política nacional: o esforço do Estado Novo para consolidação do poder e redefinição do território nacional, as preocupações das elites quando as origens da nação, além da composição social da época[7], fazendo com que o Estado Novo buscasse nos índios a identidade e a essência nacional.
Um ponto importante no filme, é a demonstração das diferentes tribos indígenas, com costumes, culturas, crenças e valores distintos. Os irmãos Villas-Boas lutavam pela preservação dos mesmos. Porém, era tendência do Estado, tanto que os propagandistas do Estado Novo não faziam distinções entre as diversas tribos, e, até hoje, há a generalização de todas essas tribos quanto uma única classe de índios. Gersem Baniwa, diz que a diversidade é tamanha que há diferença até entre tribos do mesmo gênero, por exemplo, a Guarani, que existe em três países diferentes.[8]
O SPI foi criado com a função de proteger os indígenas e propiciar o contato e a civilização dos mesmos, transformando-os em trabalhadores nacionais[9], tanto que seu nome original era Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais.[10] Souza Lima critica o seu modo operandi dizendo que o SPI ao invés de proteger, explorou os indígenas, e foi alvo de bastante corrupção, tendo que ter suas atividades encerradas em 1967, sendo substituído pela FUNAI.
O território indígena sempre foi alvo de cobiça. Com a Marcha para o Oeste, boa parte dos ruralistas tentavam tomar as terras dos índios para transformá-las em latifúndio. Há uma passagem no filme em que uma tribo é massacrada com esse intuito. O filme demonstra bem o problema político gerado ao não considerar os índios como cidadãos, pois governadores davam a concessão de terras indígenas para proprietários rurais e latifundiários como se as mesmas não fossem ocupadas. José de Souza Martins nos diz que Vargas não quis ou não pode enfrentar os grandes proprietários de terras, criando em seu governo a política de não-contrariamento aos proprietários rurais[11], política essa que vigora até hoje em dia nos governos federais.
Nesse contexto surge a luta pela criação de um território onde os indígenas pudessem viver em paz, sem sofrer ameaças por parte dos homens brancos. Outro fator que fez emergir essa necessidade foi a criação de Brasília por Juscelino, e seu plano de Metas no qual pretendia cortar o país com estradas.[12] Depois de muita luta por parte dos irmãos Villas-Boas, foi criado o Parque Nacional do Xingú, local onde várias tribos indígenas poderiam conviver sem se preocupar. O parque sofreu resistência, de acordo com o filme, de ruralistas, políticos, e de alguns índios, que não queriam sair de seus territórios, onde seus ancestrais viveram, e ir para o Xingú. Há um momento crítico no filme, quando da criação da Transamazônica, estrada que passaria dentro de uma tribo indígena não-contactada, o que fez com que vários embates políticos fossem travados sobre a questão.

O Parque do Xingú sofre hoje em dia com a pressão da bancada ruralista e dos latifundiários que desejam a abertura de suas terras para o plantio e o sufocam invadindo suas fronteiras.







Referências Bibliográficas

BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Entrevista com Gersem José dos Santos Luciano – Gersem Baniwa. Revista História Hoje, v. 1, no 2, p. 127-148 – 2012.
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Nacionalização das fronteiras: o SPI como parte do Ministério da Guerra. In: Um grande cerco de paz, Rio de Janeiro, Vozes, 1995, pp. 266-285.
________________. Reconsiderando poder tutelar e formação do Estado no Brasil: notas a partir da criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais. In: FREIRE, Carlos Augusto da Rocha (org.). Memória do SPI. Rio de Janeiro: Museu do Índio/FUNAI, 2011.
MARTINS, José de Souza. A aliança entre capital e propriedade da terra no Brasil: a aliança do atraso. In: O poder do atraso. São Paulo: HUCITEC, 1994, p. 72.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural. In: FEREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O tempo da experiência democrática – da democracia de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
SETH, Garfield. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado nação na era Vargas. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, nº 39, 2000.

Referência Cinematográfica

XINGÚ. Direção de Cao Hambúrguer. Produção de Fernando Meirelles. Tocantins: 02 filmes, 2012.

Imagens

Capa do Filme: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/c/c2/Xingu_(filme).jpg
Contato com índio: http://img.socioambiental.org/d/237222-1/xavante_2.jpg
Xingu 50 anos:                                    http://3.bp.blogspot.com/SM4brx6q8Y/ThMNb4xyqXI/AAAAAAAAGV0/PtFrsCoMlmU/s1600/xingu50anos.png




[1] MOREIRA, Vânia Maria Losada. Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural. In: FEREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O tempo da experiência democrática – da democracia de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 185
[2] Idem, p. 186.
[3] SETH, Garfield. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado nação na era Vargas. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, nº 39, p. 14, 2000.
[4] Cf. LIMA, Antonio Carlos de Souza. Nacionalização das fronteiras: o SPI como parte do Ministério da Guerra. In: Um grande cerco de paz, Rio de Janeiro, Vozes, 1995, pp. 266-285.
[5] LIMA, Antonio Carlos de Souza. Reconsiderando poder tutelar e formação do Estado no Brasil: notas a partir da criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais. In: FREIRE, Carlos Augusto da Rocha (org.). Memória do SPI. Rio de Janeiro: Museu do Índio/FUNAI, 2011, p. 203.
[6] SETH, Garfield. Op. cit. p. 3
[7] Idem.
[8] Cf. BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Entrevista com Gersem José dos Santos Luciano – Gersem Baniwa. Revista História Hoje, v. 1, no 2, p. 127-148 – 2012.
[9] LIMA, Antonio Carlos de Souza. Reconsiderando poder tutelar e formação do Estado no Brasil: notas a partir da criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais. In: FREIRE, Carlos Augusto da Rocha (org.). Memória do SPI. Rio de Janeiro: Museu do Índio/FUNAI, 2011, p. 203.
[10] Idem.
[11] MARTINS, José de Souza. A aliança entre capital e propriedade da terra no Brasil: a aliança do atraso. In: O poder do atraso. São Paulo: HUCITEC, 1994, p. 72.
[12] Cf. MOREIRA, Vânia Maria Losada.op. cit.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Por Vanir Junior


Jérôme Baschet, professor da Universidad Autónoma de Chiapas, no México, em seu livro, “A Civilização Feudal: Do ano Mil à Colonização da América”[1], propõe sintetizar o que foi a sociedade medieval, sobretudo, o período do feudalismo por uma nova ótica reflexiva.
O autor preza por uma análise crítica a respeito da civilização feudal, sendo seu viés a concepção de “Longa Idade Média” (o que demonstra a influência de nomes como Jacques Le Goff em seu trabalho), afirmando que tal civilização não se restringiu à Europa, mas se estendeu às conquistas hispânicas na América, que seriam portadoras de uma herança de valores típicos da sociedade feudal.
O livro de Baschet se divide em duas partes totalizando dez capítulos. A primeira delas – dividida em quatro capítulos – traz informações e conhecimentos de base sobre a formação da sociedade medieval, utilizando para tal compreensão duas palavras-chave: feudalismo e Igreja[2]. É nesta primeira parte também que o autor trata da questão principal do livro ao fazer a “junção entre Europa medieval e a América Colonial” [3].
A segunda parte – com seis capítulos – tem como proposta compreender, de forma mais aprofundada, os aspectos e mecanismos que compunham a sociedade feudal, bem como suas estruturas mentais/culturais mais fundamentais. Há o considerável enfoque nas mentalidades[4], com a abordagem de temas como o tempo, o espaço, moral, imagem, entre outros[5]. O objetivo é compreender o universo medieval sem, contudo, dissociar em tal processo elementos como economia, religião, sociedade e política[6].
É possível dizer que Baschet, em sua análise, preza por uma idéia de continuidade a respeito da Idade Média – já que a propõe como longa – e vê a periodização como algo artificial. O autor propõe romper com o quadro habitual que vê o fim do período medieval em 1453. Para ele, as convenções sociais feudais permaneceram durante muito tempo não só na Europa, como também nas terras americanas, que herdam a muito do quadro sócio-cultural medieval. Os conquistadores da América estavam imbuídos de uma visão medieval.
Neste sentido, o autor se refere a uma permanência estrutural do “essencial do feudalismo[7]. Baschet defendeu, por exemplo, a existência de "feudalismo" na América colonial, sobretudo, no México, uma vez que houve a continuidade do essencial das estruturas feudais adaptadas à realidade colonial, a partir do papel fundamental de dominação/estruturação da Igreja, juntamente com uma série de relações políticas entre uma camada aristocrática (o que fica claro no sistema das encomiendas e repartimientos) e a monarquia. Referente a este último aspecto citado, por mais que tenha havido modificações na relação monarquia e aristocracia no período considerado moderno, para Baschet isso não foi suficiente para se romper a lógica feudal.
Sobre esta análise, o autor dedica o último tópico do capítulo IV da primeira parte do livro, dizendo que o feudalismo não é imóvel, mas, sim, apresenta dinamismo para modificações. Fala, desta forma, de um feudalismo colonial. Estabelece, assim, um quadro comparativo da Europa feudal com a América colonial para comprovar sua hipótese de continuidade de estruturas feudais no mundo colonial americano[8].
Não é possível falar propriamente de uma relação de dominium, ou seja, de uma fusão de poder sobre terras e homens[9]. Entretanto, a estrutura da encomienda, excetuando-se esta noção do dominium, de resto, constituiu-se como um elemento feudal – na visão de Baschet – já que era concedida por uma autoridade superior como recompensa por serviço prestado, reproduzindo parcialmente a dominação feudal em solo colonial americano.
Referente à Igreja, há quase que um completo predomínio da estrutura eclesiástica medieval na América. É possível falar da riqueza da Igreja, de suas terras, dos processos de evangelização/luta contra o paganismo, o culto dos santos (que substituíram cultos indígenas), entre outros. O papel da Igreja no mundo colonial foi quase que igual ao do mundo medieval, se impondo como reguladora religiosa, cultural e moral da sociedade, por meio da sacralização da mesma.
Assim, Baschet fala da existência de um “feudalismo tardio e dependente”[10], que, mesmo tendo especificidades próprias do contexto americano (afinal, a cultura americana não se anula em favor da européia, como no caso da persistência de crenças antigas que continuaram sob roupagem cristã ou ídolos e cultos escondidos nos fundos das igrejas), manteve o principal referencial político da Europa medieval, uma vez que era ela quem transferia as referências feudais ao mundo colonial.
Desta forma, é possível dizer que, ao mesmo tempo em que defende uma longuíssima Idade Média, Baschet a transpõe para lógica de colonização americana. Para o autor, os conquistadores espanhóis, guiados pelo espírito da Reconquista e a conquista de novos territórios, possuem uma visão de mundo impregnada de valores medievais[11], tendo como principal objetivo a cristianização/evangelização dos territórios conquistados.
Assim, o autor propõe que a passagem da Idade Média para a Idade Moderna deve ser repensada, pois não há um corte incisivo entre as épocas. Há uma junção em que elementos medievais permanecem durante muito tempo e as continuidades são várias: ritos de sagração dos reis, a sociedade estamental, a influência/dominação da Igreja, tendo tais estruturas permanecido até o século XIX[12]. O próprio movimento de Reconquista é medieval e em terras americanas os conquistadores tiveram como padroeiro Santiago Matamoros[13].
Ao falar de uma herança medieval no México, Baschet faz críticas aos estudos de Luís Weckman, pois o mesmo se limita a isolar aspectos que são similares tanto na sociedade medieval, quando na sociedade colonial, listando-os de forma semelhante a um catálogo. Isso impede uma análise profunda da dinâmica que une o mundo medieval ao mundo colonial mexicano[14].
O autor também critica Weckman no sentido de dizer que o mesmo permanece aprisionado ao tradicionalismo de uma oposição entre Idade Média e Moderna, dizendo que, em meio à difusão das idéias renascentistas, a Espanha permanecia medieval e atrasada, enquanto o resto da Europa já era “moderno”. Baschet, além de discordar que a Espanha fosse atrasada – uma vez que foi uma das pioneiras a se lançar no processo de conquista da América, além de Fernando de Aragão ser considerado como modelo de príncipe para Maquiavel – nega que renascimento tenha provocado total ruptura, já que a tal idéia (ou seja, a de renascimento) é algo que remonta ao período medieval, estando suficientemente “longe de marcar o fim da Idade Média”[15].
É provável que o grande problema da obra de Baschet esteja no sentido de que, ao focar esta noção de “Longa Idade Média”, acaba desconsiderando a existência de algumas rupturas no processo. O autor não as nega, mas praticamente não as enfatiza. Desta forma, o artigo de Ana Carolina Almeida, intitulado como “Pensando o fim da Idade Média: a longa Idade Média e Le Goff e a colonização da América de Baschet”[16] trata, em partes, desta questão.
Enfatizando que Baschet foi o discípulo de Le Goff que mais levou à frente a idéia de “Longa Idade Média”, Ana Carolina diz que historiadores como Guy Lobrichon não aceitam “o prolongamento da Idade Média para além do século XVI”[17], justamente pela existência de rupturas – que acabaram não tendo muito espaço no trabalho de Jérôme Baschet – em pontos centrais que constituem o medievo.  Ana Carolina ressalta que uma das principais rupturas foi a Reforma Protestante, desencadeando mudanças nos planos de dominação religiosa da Igreja Católica.
Outro ponto importante levantado por Ana Carolina é a questão da formação dos Estados Nacionais[18], que acaba resultando na subordinação das igrejas que estavam em territórios dos países em processo de formação. É importante ressaltar que a Igreja Católica, na figura da Igreja de Roma, pelo menos desde o fim da antiguidade, aspirava a formação de uma Respública Christiana. Ou seja, seria a formação político-religiosa em que a Igreja de Roma se tornaria a chefe de uma teocracia papal, situação em que todas as igrejas e instituições temporais -
monarquias - estariam subordinadas ao poder do Papa.
Com a centralização dos Estados Modernos, este sonho universalista papal não se concretizou e a Igreja passa, de certo modo, a ficar num status mais contido, tendo o papado – como ressaltou Ana Carolina – que obedecer determinadas imposições referente às taxações, exercícios jurídicos, entre outras.  
           




[1] BASCHET, Jerome. A Civilização Feudal: do Ano Mil à Colonização da América. São Paulo: Editora Globo, 2006
[2] Ibidem. p. 46
[3] Ibidem. p. 46
[4] Ibidem. p. 46
[5] Ibidem. p. 46
[6] Ibidem. p. 46
[7] Ibidem. p. 18
[8] Ibidem. p. 282
[9] Ibidem. p. 283
[10] Ibidem. p. 293
[11] Ibidem. p. 28.
[12]  Ibidem. p. 44.
[13] Ibidem. p. 27.
[14] Ibidem. p.  31.
[15] Ibidem. p. 45
[16] ALMEIDA, A. C. L. Pensando o fim da Idade Média: a longa Idade Média e Le Goff e a colonização da América de Baschet  In: Revista Tempo de Conquista. RTC 7, 2010.
[17] Ibidem. p. 13
[18] Ibidem. p. 13

Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, A. C. L. Pensando o fim da Idade Média: a longa Idade Média e Le Goff e a colonização da América de Baschet  In: Revista Tempo de Conquista. RTC 7, 2010.

BASCHET, Jerome. A Civilização Feudal: do Ano Mil à Colonização da América. São Paulo: Editora Globo, 2006